A inauguração contou com a presença do Vereador com o pelouro da Cultura, José Nuno Santos, que sintetizou o movimento cartonero em uma frase: “A necessidade aguça o engenho”. “Os povos latinos têm muito esta capacidade de, apesar de viverem em circunstâncias muitas vezes difíceis, conseguirem resolver problemas complexos com soluções simples”, reparou o autarca, reconhecendo o papel do movimento cartonero na democratização da leitura.
Da editora “Vento Norte Cartonero”, Gaudêncio Gaudério comunicou através de videochamada, desde o Brasil, contextualizando a génese do movimento cartonero na Argentina com os anos difíceis que o país passou no início deste milénio. Da necessidade de meter pão em cima da mesa, os cartoneros procuravam, pelas ruas, cartão, que venderiam, o que eventualmente despoletou um movimento, de livros sustentáveis e únicos, feitos deste “cartón”: “Nunca vamos ter duas capas iguais — 150 livros, 150 capas diferentes”, rematou Gaudêncio.
Da editora de Lisboa, “Eva Cartonera”, Helena Patrício repara como há 30 anos que se fala no desaparecimento do livro físico: uma realidade que nunca se materializa, e que o livro cartonero vem a desafiar. Helena também defende o engenho do povo argentino, enaltecendo o processo de fabrico destes livros: “Isto é muito ‘viciante’: é uma espécie de um tricô, estamos ali durante a noite”, admite.
Para Helena, do ponto de vista social, o livro cartonero é um modo de “fomentar a brincadeira e o fazer”. “Não podemos ser meros consumidores”, alerta a bibliotecária, pois “todas as pessoas podem pôr as mãos na massa e criar arte e partilha-la e em voz alta — partilhar a alegria”, rematou.
Organizada pelo Município de Gouveia e o Grupo Aprender em Festa, em parceira com o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a exposição que abre o caminho para “O Universo de Livros Cartoneros” estará patente na Biblioteca Municipal Vergílio Ferreira até 25 de fevereiro