A Romaria Cultural estará de volta para a sua nona edição e ocupará o centro de Gouveia, como já tem sido hábito, no último fim de semana de julho. O posicionamento e afirmação enquanto espaço de diálogo entre as artes cada vez mais maduro, leva a que sejam explorados novos caminhos e propostas programáticas, continuando-se, porém, a desafiar artistas, locais e nacionais, a dialogarem e criarem vínculos afetivos a este território, condição para que saia anualmente reforçado com novas folhas perenes.
Mas se a Romaria tiver somente uma cor, ela será verde, já que quer ver novos ramos germinarem, e da “sua” árvore – a do Mirante do Paixotão –, que se debruça sobre o centro de Gouveia, é possível avistar oportunidades para fazer pequenas romarias e visitar exposições, participar em oficinas, colaborar em conversas e assistir a espetáculos de proximidade e programados em palcos informais, portanto circular, mas permanecer, induzindo ritmos lentos e períodos de usufruto, diálogo e reflexão.
Da mesma árvore, mas no sentido contrário, o da montanha, continua a avistar-se o mítico Anfiteatro da Cerca, que voltará a receber os principais espetáculos. Ali, há uma biodiversidade muito rica que, organicamente, coabitará com as artes e será, forçosamente, inspiração para mais criações.
Destes, destaca-se o concerto de Marcus Veiga na noite de dia 29 de julho, vulgo Scúru Fitchádu, que representa uma referência direta à música cabo-verdiana e à “matriz africana”, dentro de uma estética punk, eletrónica e disruptiva onde se alinham influências e cruzamentos de diferentes universos musicais.
O seu crioulo é raiva e luta, e a inovação das apresentações ao vivo em clubes e festivais por todo o país levaram, mais recentemente, a várias incursões internacionais. O seu álbum de estreia “Un Kuza Runhu” (A Bad Thing), de 2020, conquistou o seu lugar na lista dos melhores álbuns portugueses pelos meios de comunicação especializados, e “Nez Txada skúru dentu skina na braku fundu”, que foi lançado em janeiro deste ano, é mais conceptual e inspira-se nos movimentos revolucionários pró-africanos pela independência, estabelecendo uma linha condutora para uma interpretação poética do espectro urbano atual.
Antes dele, tomará conta do mesmo espaço o projeto “A Love Electric”, power trio de três nacionalidades, aclamado pela crítica e nascido na cena do jazz da Cidade do México. Em sete anos de tours incansáveis e produção criativa, Todd Clouser, Hernan Hecht e Aaron Cruz lançaram sete discos em selos nos Estados Unidos, México e Europa, e realizaram mais de mil concertos, em quatro continentes. A sua expressão musical pode ser associada a power psych, punk jazz e freak rock.
Os Pás de Problème, que subirão ao mesmo palco no dia anterior, são conhecidos pelas festas de longas horas, melodias frenéticas, letras rasgadas e de variada intensidade paisagística. Na ressignificação do dancefloor e do que é fazer a festa, restam os ritos e os mitos sobre largar o corpo, suar com gosto e encontrar sempre uma cara conhecida por entre os braços e as pernas que dançam.
A mala de música e estórias, movimento iniciado em 2022 e que, ano após ano, pretende seguir diferentes caminhos e conceber novos produtos artísticos, apresentará um espetáculo inédito nesta edição, intitulado “Jazz Cabreiro”. Uma vez mais, resultará de uma colaboração entre artistas de outras regiões e de cariz mais profissional (João Mortágua e Gonçalo Parreirão) e jovens músicos gouveenses (Gonçalo Sario e Diogo Ferreira).
A restante programação está ainda a ser estruturada e convidará a fazer pequenas romarias, e a parar para desfrutar de outras iniciativas e espetáculos de proximidade, exposições, conversas e oficinas que terão lugar em locais informais, situados no eixo central da cidade e de acesso totalmente gratuito, com destaque para a Rua da Cardia/Travessa do Loureiro, Praça de S. Pedro, Pelourinho (cruzeiro), Rua 5 de Outubro e Mirante do Paixotão.
Quanto a este último, o público que aí suba durante a tarde de sábado, terá à sua disposição uma dinâmica de jogos de tabuleiro nas mesas de jardim, a performance intitulada “Encontrei um quadro, pensei plantá-lo…e plantei”, que terá momentos de interação com o público, e ainda a conclusão de uma intervenção de arte urbana da autoria do artista senense Ricardo Cardoso.
Como atividades de cariz mais itinerante e de ligação à natureza, farão parte da programação caminhadas interpretativas biodiversas, organizadas em colaboração com o CERVAS, e um passeio conduzido pelo paisagista sonoro Luís Antero, natural de Oliveira do Hospital, que em seguida incorporará os sons recolhidos para o desenvolvimento de um Concerto para Olhos Vendados, a acontecer nesta mesma edição da Romaria Cultural.
No domingo, dia 30, importa destacar a recém-parceria com a Associação Cultural Quebra Costas, que se traduzirá num concerto de jazz de CBF Trio (Pedro Calero no órgão Hammond, Paulo Bandeira na bateria e André Fernandes na guitarra), o qual representa uma extensão do Festival das Artes QuebraJazz (Coimbra).
A presença mais reforçada no centro de Gouveia também será pautada pela renovação de algumas atividades que já começam a ser tradição, como sejam a Recriação da Romaria Tradicional ao Calvário, protagonizada pelo Rancho Folclórico de Gouveia, a devolução de uma ave da região à natureza, protagonizada pelo CERVAS, a visita às exposições na tarde de sábado, ou mesmo a Feirinha GO Romaria, que estará ativa durante os três dias do evento. As inscrições para reserva de um espaço nesta feirinha podem ser realizadas no formulário que já se encontra partilhado nas redes sociais da GO Romaria, ou através do contacto telefónico 914 138 703 ou e-mail feiras@romariacultural.pt.