No ano em que se celebra meio século da Revolução dos Cravos, o Município de Gouveia assinalou esta data, tão importante na democracia portuguesa, com uma série de iniciativas evocativas dirigidas a diferentes públicos e a decorrer em vários espaços do concelho.
A cerimónia iniciou-se com o ato solene do hastear das bandeiras, ao som do Hino Nacional, entoado pela Sociedade Musical Gouveense “Pedro Amaral Botto Machado”, seguindo-se a sessão solene, que decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal.
A abertura da sessão ficou a cargo do Senhor Presidente da Assembleia Municipal de Gouveia, Dr. Gil Barreiros, que começou por cumprimentar os presentes, realçando a presença, na tribuna, da Senhora Professora Lucinda, que representa uma das primeiras mulheres que tiveram funções autárquicas no concelho, tendo sido Presidente da Junta de Freguesia de Melo. O, também, presidente da comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de abril, pediu, ainda, um minuto de silêncio por “todos os que lutaram contra a ditadura e que já não estão entre nós e que, com estes gestos, pretendemos homenagear para sempre.”
Saudou os capitães de abril do concelho, os membros da comissão e todos os que de forma ativa participaram na vida autárquica ao longo destes 50 anos de luta contra a ditadura.
A sessão prosseguiu com a declamação de poemas por Sebastião Nascimento e Francisca Craveiro Lopes, alunos do Agrupamento de Escolas de Gouveia.
A este momento, sucederam-se as intervenções protocolares partidárias, pela voz dos representantes dos Partidos Social Democrata, Partido Socialista e Partido Comunista Português.
Daniela Oliveira, representante do PSD, iniciou a sua intervenção cumprimentando os presentes na pessoa do seu tio, Sr. Deonildo Figueiredo, primeiro Presidente da Junta de Freguesia de Vinhó eleito após a Revolução e membro da Comissão de honra das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, reconhecendo-o como símbolo daquilo que, nas suas palavras, deverá ser a participação autárquica: “interessada, dedicada e disponível para todos quantos queiram sonhar com ela”.
Prosseguiu a sua alocução, propondo uma reflexão sob o mote “aos 20 beleza, aos 30 força, aos 40 riqueza e aos 50 sabedoria”, percorrendo o caminho da democracia e das mudanças que ela trouxe aos portugueses neste meio século.
Assinalou, primeiramente, a beleza da descoberta, com a introdução de vários direitos e garantias e com o crescimento. Depois, a força para acompanhar as mudanças e resistir como país ao processo de evolução e modernização em curso, sublinhando a necessidade de resiliência para acompanhar o desenvolvimento.
A riqueza, que refere “poder e dever ser maior do que a esfera material”, sublinhando as medidas que, nesta altura, reafirmaram “Portugal como um país livre, tolerante, empático, respeitador das diferenças, das dores, dos amores e dos desejos dos outros”.
Aos 50 a sabedoria, que impõe a cada um de nós a tarefa e o trabalho de ver abril com olhos de inclusão, a responsabilizar-se por si e pelo outro e assim “se nos sentirmos responsáveis uns pelos outros, talvez daqui a 10 anos digamos, aos 60 a plenitude.”
Seguidamente, Pedro Carvalho, representante do PS, usou da palavra, salientando que “há 50 anos se assistiu ao nascimento da democracia, conquistando-se algo único e fundamental e que por vezes nos esquecemos do imenso valor que encerra: a liberdade para pensar, o direito de falar e escrever livremente, o direito de o povo sair à rua para se manifestar.” Acrescentou que “Democracia significa também direitos, mas esses não foram concedidos, todos foram sendo conquistados pelo povo, e essa conquista pelos nossos direitos políticos e sociais é um processo que continua em curso e que deve continuar em curso todos os dias, combatendo, no entanto, tudo o que desgasta a liberdade e a democracia.”
O PCP foi o último partido a intervir, pela voz de Açucena Carmo, que começou por referir que “nesta data celebrativa está inscrita a nossa luta e a dos nossos familiares, que este momento assinala o resgate da democracia e da liberdade conquistadas, num processo de profunda transformação social e económica. Abril não foi uma utopia, foi a realização, a construção e a valorização de um Portugal com futuro”.
Após um momento musical protagonizado pelo quarteto de clarinetes da Sociedade Musical Gouveense, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Gouveia, terminou as intervenções protocolares, dizendo que “o 25 de abril de 1979 é um marco incontestável do inicio da liberdade em Portugal, do inicio da mudança, que trouxe mais educação, melhor acesso à saúde, melhores condições de habitação, melhores condições vida e dignidade às mulheres (…) é por isso que, ao fim de 50 anos, estamos aqui reunidos para celebrarmos esta liberdade em todos os campos que conquistámos. Um dos maiores ganhos foi, sem dúvida, a democracia e importa homenagear todos aqueles que foram responsáveis por esta conquista, ensinando, também, aos mais jovens o preço da liberdade e de tudo o que se cumpriu.” Referiu, ainda, que “o 25 de abril tem, no entanto, de ser entendido como algo que é de todos e não apenas de alguns, que exige um comprometimento de todos e uma reflexão sobre o queremos para o futuro do país e sobre tudo o que falta para se cumprir abril. Somos um povo com uma história de resiliência e superação e os portugueses merecem que continuemos a construir o país sobre os alicerces do 25 de abril.”
Finda a Sessão Solene, as comemorações prosseguiram com a entoação, na escadaria dos Paços do Concelho, do tema que se fez hino da revolução “Grândola, Vila Morena”, acompanhada pela Sociedade Musical Gouveense “Pedro Amaral Botto Machado”, seguindo depois a comitiva para o Praça do Tribunal, onde foi inaugurada a pintura de arte urbana “Um Mural para João Abel Manta”, concebida pelo artista vencedor do concurso João Miguel Santos e inspirada na obra gráfica de João Abel Manta.
Seguidamente, foi prestada homenagem aos antigos combatentes, no Jardim Lopes da Costa, e, no Monte Calvário, procedeu-se à devolução de uma Águia-Calçada à natureza, com a colaboração do CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens.
A manhã foi, ainda, preenchida com a inauguração do “Jardim dos Cravos”, na Praça Alípio de Melo.
A programação matinal culminou com um almoço convívio, no Largo do Alto da Senhora da Estrela, na freguesia de S.Paio, onde todos foram convidados a participar.
A tarde prossegue com a inauguração da Exposição “Uma Coisa Nunca Vista – João Abel Manta, Artista Revolucionário”, que se encontra patente no Museu Municipal de Arte Moderna Abel Manta e que poderá ser apreciada até ao dia 01 de setembro de 2024.