A pandemia COVID-19, que teve o seu primeiro caso em Portugal no dia 2 de março e no concelho de Gouveia no dia 27 do mesmo mês, obrigou o Município de Gouveia a adotar um conjunto de medidas extraordinárias, com o objetivo de prevenir a exposição ao vírus e a disseminação do contágio, propiciada pelo contato e proximidade entre pessoas e agravada por circunstâncias que promovam o seu ajuntamento e aglomeração.
O Município de Gouveia tem assim centrado, nos últimos meses, as suas ações e atenções no combate à pandemia, por assumir que a questão da saúde pública, no contexto de um concelho com um elevado número de pessoas que integram os denominados grupos de risco, tinha que ser uma prioridade.
No entanto, e como todos sabemos, o confinamento praticado e nível nacional e local, teve um efeito penalizador na economia local, que embora tenhamos procurado mitigar através de um conjunto de medidas de estímulo, nos continua a preocupar.
Por isso mesmo, chegado o momento de decidir sobre a realização das “Festas do Senhor do Calvário”, todos estes elementos tiveram de ser objeto de uma profunda e séria ponderação.
Afinal, tomar a decisão sobre a realização de uma celebração que é feita de forma ininterrupta desde 1893, que tem um significado na fé e no imaginário de todos os gouveenses e um peso considerável na economia local, não pode nem deve ser feita de ânimo leve.
Questionamo-nos se um evento massificado, projetado com o objetivo de captar um grande fluxo de pessoas para este território, numa altura em que o surto ainda não parece estar controlado em algumas regiões do país, não seria irresponsável.
Se a realização de um evento desse tipo, num momento em que procuramos promover o concelho de Gouveia e a Serra da Estrela como um destino turístico seguro neste contexto de pandemia, não seria incongruente.
Mas também se seria ajustado convidar os Gouveenses a sair à rua para celebrar as Festas do Sr. do Calvário, quando não há muito tempo estavam obrigados a um dever cívico de recolhimento domiciliário.
A comemoração das “festas” em moldes tradicionais teria como contraponto a necessidade de implementar um conjunto de medidas com o objetivo de promover o distanciamento social. Situação que, no contexto de uma celebração que tem como um dos seus principais objetivos reunir pessoas, acabaria por cair numa contradição insanável.
Por último, mas não menos importante, a esta ordem de razões acresce a decisão concertada em sede de Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIMBSE), por todos os municípios integrantes, de não realizar quaisquer festas e romarias, até ao dia 31 de agosto de 2020.
Por tudo isto, decidimos que não seria prudente realizar as Festas do Senhor do Calvário nos mesmos moldes em que as conhecemos até hoje.
Iremos, ainda assim, assinalar as celebrações de forma a que o momento sirva para promover as tradições, a memória, o património natural, histórico e cultural do concelho, as atividades económicas e o lazer, em segurança e de acordo com as regras que se impõem nestes dias, naquele que será mais um grande desafio que a autarquia, autoridades religiosas e sociedade civil terão de enfrentar novamente juntos.